quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

deus está de férias




imagina você
assistir uma injustiça por dia
e não poder fazer nada

uma injustiça
.......................por dia
e ficar inerte

a cada injustiça
........................uma covardia
e ficar inerte

parados,
estáticos
como se fosse longe

e fingimos
...................por corvadia
a injustiça do nosso lado
na nossa frente
nos nossos olhos
( que apesar
de fechados
podem ver)


e não fazemos nada
por impotencia
..................................por corvadia

quando os vidros se fecham
quando o fone está no ouvido
ignorando o ambulante do ônibus
quando não há centavos
quando não olhamos pro chão
quando atravessamos a rua
por medo, por receio
(talvez preconceito)
quando mais um jovem morre...

é porque deus está de férias
e o inferno está mais perto
e ele assiste a isso tudo covardemente

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Subversiva

Jornada




Jaime pega mais um dia o trem das 6:27 na estação do Engenho de Dentro. À caminho da Central, vai esmagado e apertado, pelos seus irmãos trabalhadores. Todos indo ali, para um mesmo rumo. Apesar de ser cedo, o calor já atormenta. O longo sol, tão distante mas também tão perto, acalora o trem que vai chegando na estação do Méier. Para mais gente entrar. Menos uma - pensa - fazendo a contagem, como faz todos os dias, até chegar ao seu destino. A cada estação, menos uma. A cada estação o pensamento longe do trem. Para esquecer a dor nas pernas - que o seguram dedicadamente todos os dias - e também o calor que distribui pingos de suor pelo seu corpo. Poderia pegar o Direto, mas ele nunca consegue chegar no horário para ir até Madureira. Seu sonho sempre lhe trai. Porém ele enganava a si mesmo que a viagem direto seria mais chatas. Não haveria estações para contar, seria mais demorada. Pobre menino. Ao chegar na Central, doce destino, ainda há a amarga caminhada sob sol para economizar os luxuosos R$2,40. Mais uma coisa para ocupar sua mente e protegê-la no sol. -O que fazer com essa valiosa economia: Comprarei uma coca? Mas ainda preciso de 10 centavos... Comprarei uma cerveja? Mas ainda precisaria de 10 centavos... Comprarei um jornal? Ou não... as noticias estão caras... Juntarei para o fim de semana? Mas ainda é segunda-feira... Comprarei... ? - Jaime chega seu destino. Suado, cansado, e ainda nem começou o seu trabalho, a sua rotina. Pensa sempre em se demitir. Xingar o chefe, seus superiores - vão para a porra - esbraveja sozinho ( e escondido) no banheiro. Imagina-se dono de uma quitanda perto da sua casa ou então vendendo churrasquinho ou ainda vivendo cantando de bar em bar - mas volta a sua realidade, a seu emprego real, aos seus desafios. Cada minuto parece uma eternidade. Tenta se distrair até chegar a hora do almoço mas essa ansiedade acorda a barriga que já o perturba - roncando sem parar -desde das onze horas. Ainda falta uma hora. Xinga a barriga pela maldita pressa. Cada ronco impedia a sua imaginação de levá-lo para outro lugar. Cada ronco denunciava sua atual situação. Cada ronco o torturava. Na hora do almoço, a marmita cheirosa é devorada em instantes. O resto do tempo ele reserva para cochilar um pouco e discutir sobre futebol. Não necessariamente nessa ordem. O resto do dia passa sem grandes preocupações e chega a sua mais esperada hora, o fim da jornada. Pega o caminho de volta, prefere voltar de ônibus e esquecer o trem. Toma uma pinga no botequim do ponto, que passa queimando,( lá se foi os R$2,40) e entra no ônibus que mais parece uma carroça de gente. Em pé, com calor, sem estações para contar. Condena sua preguiça mil vezes. Afoito para sentar, procura sempre alguém com a cara de que vai soltar no próximo ponto. Olha para uma velhinha que segura a bolsa, pensa: vai levantar!, espera ao lado dela e nada. Uma, duas, três, quatro pessoas sentam e a porra da velha não sai do lugar. Se condena mais mil vezes por ter escolhido o alvo errado. Como castigo a si mesmo reserva ali como o seu lugar até o destino: Ou a velha levanta ou vai em pé a viagem toda. E foi em pé a viagem toda. Se irrita porque o motorista deixa ele depois do ponto. Vai andando pra casa amaldiçoando o motorista ( e a velhinha é claro) até chegar ao seu portão. Recebe a mulher os filhos, janta, toma banho, assiste o Jornal, com alguns cochilos, e vê a novela com a mulher. A sua filha mais velha o aporrinha, mas ele ignora. Olha para o relógio e se põe a dormir. O imenso calor retarda um pouco o sono... o ventilador se mostra indefeso contra a grande temperatura. Suando, dorme aos poucos... pensando no amanhã que será igual ao ontem, que por sua vez foi igual a hoje - e sempre. TRIM, TRIM, TRIM - Toca o despertador: Perdeu o trem Japeri-Central Direto. Maldição - pensa.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Egito





"A propósito, alguns dos seus oficias de polícia mudarão seus uniformes e se juntarão ao povo"

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Rosea




ao regar uma rosa
uma única rosa
a cada dia
ansiosamente
para vê-la crescer.

As vezes com

........p
........i
,.......n
........g
........o
........s

d'água
outras vezes
......................de suor

outras
lágrimas
que vêm por um dia
melhor

esperando ansiosamente
vê-la crescer.

Uma
.........rosa
Uma única
.......rosa

que nasce no barro
que nasce no asfalto
na merda
ou no mato
na cabeça
ou no coração
daquele que já padeceu

que pisam
ou arrancam
que cospem
ou a ignoram
.........................-'não me pertube agora'
diz o homem de galhofa

única rosa
uma rosa

cor de sangue
feita de sangue
construida de sangue
na usina popular
da fumaça
com cheiro de vinho
estragado
tomando o céu do ano que virá

Para cada pétala
de cada uma única rosa
um sonho - uma quimera
de um outro lugar
de uma nova sociedade
de um novo mundo que virá

basta apenas
uma única
rosa.