quarta-feira, 16 de julho de 2014

de repente, o amor

Não há solenidades
em nossos atos.

terminou
maio
e você
disse
"eu te amo."

e a ansiedade de
dividir a mesma cama
é tamanha
que mesmo sem espaço
a gente não reclama.

porque não gostamos da distância,
nem precisamos dela
para provocar saudade

(ter você ao meu lado
já virou necessidade)




sábado, 12 de julho de 2014

dedicado a todos os amantes mortos em combate

tem gente que escolheu
por não morrer
apenas amar

só a ternura 
do amor
é capaz de fazer
nos entregar
desse jeito

para desconhecidos

que sofrem e passam fome

(que outros reagem
com indiferença
ou resignação.)

eles apenas amaram
e com suas armas
carregadas de munição
também carregavam bombas de esperança

que nem o pau de arara
ou o choque elétrico
conseguiram desarmar

tem gente que escolheu por não morrer
e permanecem presentes

pois sempre tiveram a certeza
de que a vida não acaba em si mesma

E da história receberam uma única sentença: estarem condenados perseverar, para sempre. 

previsões sobre a morte

senta-se ao meu lado uma velha senhora. Inquieta, pede licença e interrompe a minha leitura. Se era importante ou não o que eu estava lendo, apesar de perguntar por mero formalismo, não lhe importava. Estava preocupada. Ligava repetida vezes para sua amiga, mas sempre caía no abismo da caixa postal. Sem resposta, pergunta-me: O que pode ser isso? Roubada, linha cortada, viajando. Dei as minhas possibilidades. Ela não tinha pensado em nenhuma dessa. Apenas uma: a morte. A doce evidencia da morte se apresentava para ela com naturalidade, comum a sua senilidade. Calei-me por um instante e respondi que o celular não pararia de funcionar por conta do falecimento do seu dono. Mesmo assim, não lhe convenci. Deve ter morrido, refletiu novamente. Apertou o botão e desceu no ponto seguinte. Não se despediu. Foi com a tranquilidade de quem sabe que não se nasce para morrer. De quem sabe que a morte não lhe dá tempo para se despedir