domingo, 28 de setembro de 2008

São Cosme, São Damião e Santa Proteção

Ele estava num botequim conversando com o seu amigo Preconceito, quando este disse:

- Amigo, olha só que triste, o mundo não é mais como antes. Não há mais crianças nas ruas correndo atrás de doces. Todas elas estão presas pelas grades dos seus condominios para garantir proteção. Ficam ali paradas até aparecer alguem para passar o magro saco de doce entre as grades frias. Depois voltam para dentro, esperando outra oportunidade. Elas foram privadas de correr e sentir o vento no rosto. Essa infancia se limita a ficar sentada e protegida. É uma fatalidade, é uma pena.

Ele, porém, não concordou. Argumentou que ainda há crianças que correm e desfrutam da liberdade para caçar doces. E que essas são tão visíveis quantos as menos privilegiadas que ficam presas. Ele continuou e disse que não estava entendo qual era o objetivo da conversa, já que ele estava analisando apenas algumas crianças. O Preconceito então terminou a sua cerveja, e explicou para seu amigo que eram exatamente essas crianças livres que privavam as outras dessa liberdade. E que essas não mereciam estar correndo, e sim presas. E que seriam as presas que mereciam correr e correr para buscar o máximo de doce. Começou a reclamar que os valores se inverteram e que essas crianças sujas e mal educadas não merecem nem o pior saco de doce que alguem podia ofertar.

Dessa vez o nosso amigo se enfureceu, e disse que não há distinção entre as crianças. Elas são todas as iguais. Pode até ser que tenham tido oportunidades diferentes, mas não pode haver tal distinção. Elas ainda estão em forma de pedra bruta e precisam ser lapidadas, ou para o bem, ou para o mal. A infância é uma linda fase, e deveria ser aproveitada por todas as crianças. Triste são aquelas que tiveram que crescer rápido, e não tiveram a oportunidade de ter uma boa infância. Terminando de falar, ele jogou a sua cerveja quente no chão e continuou:

-Isso é tudo que elas têm agora. Correr atrás de pobres doces, esse é o lazer delas. O resto das vidas delas são só desgraças. Enquanto a sua pobre criança reclama que quer um computador novo, a minha criança livre não tem nem tênis para correr. Elas mal tem comida, roupas, como você quer que tenha educação? Deixe-as em paz, deixe-as correr, deixe-as livres. Nada se inverteu, tudo está no rumo certo. Um saco de doce nada vale para uma criança que está presa em seu condominio, mas pode valer muito para aquela que quer garantir a sua sobremesa da semana. Todas as crianças merecem ter uma infância. Elas deviam correr juntas, porém o Medo não permite. Essas crianças só querem aproveitar a sua infância que elas sabem que logo vai acabar.
Na vida real, é completamente diferente: a parte feliz fica no começo e não no final.

domingo, 21 de setembro de 2008

Para algum ateu

Deus pegou um enorme pano preto e foi costurando as estrelas... e depois pegou um azul bem clarinho e começou a costurar as nuvens ( e em algumas delas fez até uns desenhos.) Ao final, pegou um amarelo bem radiante e costurou o sol.

Essa seria uma boa história para qualquer criança, mas não para um Homem.

Se eu pudesse vender apenas um conselho, seria: Amigo, não vá à igreja. Repare, somente os tristes vão para lá. Os felizes simplesmente não precisam ir para desfrutar melhor a sua felicidade. Talvez eles precisassem ir para pedir algo a mais em suas vidas felizes, porém pode se fazer isso dentro de casa. Já que deus é onipresente, já que deus vê tudo. Ele com certeza não iria deixar escapar os seus pedidos. Porém os tristes, coitados deles, precisam ir à igreja para suplicar, implorar ou até mesmo ajoelhar-se ao pé de seu pai para pedir um pouco menos de tristeza em suas vidas. E olhe que até mesmo fazendo isso tudo em lágrimas, ele ignora e até piora a situação do infeliz. Agora o Homem que faz seus pedidos em casa, as vezes até é atendido. Porém quase sempre dá a si mesmo os méritos para tal realização. Tudo bem, caro crítico. As vezes os tristes são atendidos e os felizes têm uns pingos de tragédia. Essas oscilações na vida são normais, e não é um grão-ser que decide o rumo das ondas. O mar fala por si.

Antes os deuses tinham muitas atribuições, mas aos poucos a ciência foi adquirindo umas para si. Agora tudo se resume a um só deus e a uma só atribuição: o mistério do pós-vida, como diria os otimistas, ou o mistério da morte, como diria os minimalistas. Os infelizes, que já tiveram a sua vida na desgraça, esperam seu consolo na morte e por isso se apegam na religião. Já os felizes estão bem satisfeitos com a sua vida e não se preocupam com a morte. Eles apenas vivem. Talvez essa seja a fundamental diferença entre esses grupos tão distintos... enquanto um lamenta, faz suposições e aguarda uma ajuda divina, o outro não abaixa a cabeça, não se ajoelha. Apenas olha seu rumo e segue em frente. Enquanto um espera a morte, o outro vive.

sábado, 13 de setembro de 2008

De como ele foi e sempre continuará sendo um otário, mas não percebe

Olhando antigas fotos, lembrando antigas lembranças, ele percebe de como era um estúpido. De como suas roupas eram deploráveis e de como suas atitudes eram dispensáveis. Era um otário, depois de um tempo de reflexão, chegara a essa conclusão.

Talvez tenha achado essa reposta porque agora tem maturidade. Então ele se lembra que naquela época ele também se achava maduro. E aí vem o medo, a insegurança, e a terrível afirmação: 'Invevitavelmente, sou um otário!' (Meu amigo, isso acaba com qualquer um.) Chegar a essa conclusão não foi algo fácil. E ele começa com toda aquela inquietação. De que quando foi ridículo com os outros, mas pensou que estava agradando. De que quando fez brincadeiras com o próximo, e na verdade, o estava machucando. Desconsolado, ele se joga na cama. Olha pro teto esperando que venha mais lembranças da sua otariedade. E elas vêm aos montes: De que quando foi submisso. De que quando mesmo sabendo que estava certo, se curvou ao errado. De que quando não soube impor as suas vãs opniões. Sempre aceitando, sempre se conformando, sempre se rebaixando, sempre, sempre, sempre. E nunca nenhum: NUNCA!

Leva as mãos ao rosto, coça a cabeça. O travesseiro já está amassado. A cama, totalmente desarrumada. Porém isso se arruma. Fatos passados, não. Ele sente a inevitável vontade de chorar, mas as lágrimas simplesmente não caem. E fica tudo assim... vago, sem rumo, sem nada.

Não levantará dali homem. Quem vai levantar daquela cama é o otario de sempre. Que sempre foi que sempre será. Até ele ter a coragem e a ousadia de gritar: NUNCA!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Nada é como o verão.
Talvez o inverno não seja tão frio,
talvez o inferno seja um pouco rico.
Mas nada é como vocês verão.

A gente só vê a luz das estrelas,
e não as estrelas.
Nós só vemos as luzes na escuridão.
Então, do que vale ser bom?
do que vale ser pobre?

se a única maneira de ser feliz é sendo um nobre.

sábado, 6 de setembro de 2008

Em fim.

mas enfim...
isso jamais terá um fim.
Seria bom se ao menos tivesse um começo.
Porém no meio, eu já me esqueço.
que eu não te conheço.