sexta-feira, 17 de junho de 2011

Por que?

por que a dor alheia não inflige também naqueles que nada sentem?


por que a crueldade não contempla a todos?


por que a bondade é generosa a poucos?


por que a sorte escolhe alguns?


por que uns pedaços de papel tem valor e outros não?


por que a palavra de alguns valem mais?


por que pelo modo de se vestir as pessoas são tratadas diferente?


por que uns ainda matam os outros?


por que poucos se perguntam?


por que poucos se preocupam?


por que?

por que?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

hoje a bolsa subiu três pontos, apesar da queda de Nova Iorque




Altas taxas de inflação
informações privilegiadas
empresas nacionais
capitais estrangeiros
fundamentos de mercado
deventuris
obscuridade da lei

Qual a saída?
Se o país precisa de capitais.
Títulos negociados
..................................no estrangeiro
para o desenvolvimento
do país?
das empresas?
da pornografia estrangeira?


Capital autorizado:


Mercado de capitais


vende-se papel
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor
vende-se a alma
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor
que não tem valor

Almoçando




Na pausa do almoço, a Poesia me contou um segredo: 'não gosto de sonetos'. Ora, eu ali em frente a ela não pude acreditar! Mas sonetos são tão bonitos!!!!- disse. Apesar das exclamações, ela não se deixou convencer. Não gostava de sonetos e era irredutível. Fazia Ela se parecer com sua vó, dizia amargamente. Essa obrigação de faze-los aumentava a sua raiva. Ninguém queria ver a sua mais nova invenção, talvez uns versos soltos... por que catorze? Talvez tantas estrofes quanto ela achasse necessária ou bonito. Os penteados dos Sonetos deixam a Poesia mais velha, mais madura. Só atraem leitores mais velhos, sérios, prontos para o casamento. Mas Ela não quer homens para casar. Ela quer conhecer meninos novos, aventureiros. Quer experimentar drogas novas, com garotos despreocupados. Quer se lida por leitores sem pudor, quer ser lida vorazmente. Quer a apreciação de meninas que decididas, independentes. Ela quer ser lida em qualquer lugar (porque há lugares que os Sonetos não entram) - eles são metidos - só gostam de lugares elegantes, com pompas, com recepção formal, talheres de prata, regalias para convidados. A Poesia gosta de ir a botecos, qualquer um, beber cerveja (nada de champagne) e comer a carne assada que está a três dias na estufa do bar. Isso tudo sem se preocupar. Ela quer estar no pagode, no samba, em todas as rodas. E não nas mesas de luxo, das conversas da madame. Uma mesa na calçada, com cadeiras de ferro - e basta.


A Poesia só quer ser simples, só quer estar com o povo. Este precisa da sua companhia. Aos burgueses que gostam de ostentar lindos Sonetos, meus pesames, ela não quer estar com vocês. Seus dinheiros, joias e carros não a encantam. Só ilude algumas de suas irmãs e primas que vão se vendendo por aí... Mas ela continua firme, almoçando comigo - um zéninguém - nesse restaurante sujo, a companhia de baratas e ratos, onde no fim todos tentam ser felizes.


Ela poderia estar num lugar melhor - mas eu não gosto de sonetos - ela repetiu.
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sábado, 4 de junho de 2011

Um bom patrão

Hoje é dia do pagamento. Um dos poucos em que Jaime sente prazer de ir ao trabalho. Um dos poucos momentos em que se sente estimulado a trabalhar. O dia, como tinha que ser, passa arrastado. Porém, logo depois do almoço, o patrão lhe chama. Jaime treme de medo. Lembra que o dia do pagamento é também o dia da dispensa. Jaime se arruma. Ajeita-se, bota a camisa para dentro e lava o rosto. Enquanto a água escorre pelo seu rosto pensa o quanto está velho e nem percebera. Com as pernas tremendo vai corajosamente a caminho da sala do patrão. Ao bater na porta, entra e senta a convite do chefe. Apertando uma mão na outra para esconder o nervosismo, escuta a palavra sem prestar muita atenção. Imagina-se desempregado. Pior: imagina-se contando a notícia para a esposa. Tinha acabado de comprar uma geladeira nova em prestações e não teria mais como pagá-la. Quando volta a sia ( a esposa e a geladeira ficando para atrás), sentando de frente para o patrão, este agora sorrindo e estendendo-lhe a mão, Jaime nada entende. O patrão lhe parabeniza novamente. Entrega o envelope ( sim! o pagamento!) e diz que já está liberado para ir para a casa. A ordem era simples: descansar. Mas que patrão bom! Mas que patrão gentil e bondoso! Jaime se castiga ao pensar que seu chefe iria demiti-lo. Agradece e ao mesmo tempo perde perdão aos céus, primeiro pelo seu patrão bom, segundo pelo seu pecado em culpa-lo com preconceitos. Arruma-se rápido e vai embora. Tenta ir desapercebido para não provocar a inveja de seus companheiros de tabalho. Já na rua, distrai-se andando pensando em que fazer com o salário. Vai imaginado a sua relação com o patrão. Pensa em convida-lo para um churrasco, simples porém saboroso churrasco em sua casa. Imagina ganhando uma promoção e um novo patamar de vida. Porém, um estranho o interrompe e se apresenta oferecendo seus serviços de engraxate. Sorridente já vai botando o pé de Jaime, chamando-lhe de patrão, na sua ferramenta de trabalho e dizendo como estava sujo aquele sapato. Jaime recua. Não tinha pensado em gastar seu dinheiro com sapatos. Ainda mais para limpar um que estava velho e sujo. O rapaz interpela novamente: E aí patrão, posso fazer o serviço? - colocando novamente o pé do cliente na caixa. Jaime recua novamente. Reflete um pouco e pensa que estava sendo um péssimo patrão. Ora, tinha acabado de ser super bem tratado pelo seu chefe e quando o destinho lhe dá a oportunidade de fazer o mesmo, acaba sendo perverso e mau. Pensa que tem que ser igualmente bom com aquele seu - provisoriamente - subordinado. Ele rir e diz: Olha hoje é dia de pagamento e o seu patrão gosta de um trabalho bem feito! Capricha! - e pôs novamente, agora por vontade prórpria, o pé na caixa. Enquanto o seu sapato é escovado, ele pensa o quanto que deveria pagar pelo serviço. Como queria ser bem bondoso, pensou até mesmo em pagar 10 reais. Mas essa ideia durou poucos segundos. Lembrou que havia algumas moedas no seu bolso. Talvez 5 reais mais esses trocados seria uma eterna gentileza. Em menos de 10 minutos o engraxate, agora sem sorrisos, encerrou seu serviço. Argumentando que o sapato estava imundo, cobrou a quantia de 50 reais pela quantidade de graxa que utilizou e também por todo o seu esforço. Jaime achou um absurdo e uma afronta! Na verdade o serviço deveria custar no máximo 5 reais. Irrita-se e argumenta com o engraxate que se mostra irredutível. Este, por sua vez, diz que o serviço já está feito e que este é o preço. Sem saída, ele tira a nota de 50 do bolso e dá ao engraxate que vira e vai se embora. Nem um obrigado o seu empregado lhe dá. Imagina-se sendo um péssimo patrão. Um frouxo que não consegue nem dar ordem a seu subordinado. No máximo deveria pagar 5 reais por esse serviço. Olha para seu sapato. De fato, está limpo. Foi bom o serviço. Mas 50 reais? Era um preço caro demais.