segunda-feira, 26 de junho de 2023

carnaval







(...) o que mais me comove em meio a uma multidão é ser encontrado pelo seu olhar. Entrar na sua mira. E ser atraído pela gravidade irresistível dos seus olhos até ser enlaçado nos seus braços no meio da turba. Um gesto de carinho e calmaria diante de tanta alegria e confusão para depois ser solto de volta pro mar. O que mais admiro em você é a sua liberdade. As vezes é tanto que espanta. E esse espanto é que deixa a gente vivo. Aquece, confunde, remexe. Viver é isso. Diadorim dizia que viver é muito perigoso. E não se expor a esse risco significa não viver. Ele dizia também que “quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade”. Na primeira vez que li, discordei. Mas agora entendo. Nosso amor é senhor e servo. Uma servidão que obedece o desejo e não o outro. O outro jamais pode ser, para nós, um freio, um obstáculo. A nossa parceria é um senhor sem ser dono, como um apoio fraterno, compreensivo que sempre age com compaixão. Vamos ser livres de tal modo como aquele muro alerta: a liberdade é o espaço que a felicidade precisa. Vamos arrancar as correntes e suportar essa dor no peito. Encarar de frente um amor autêntico, verdadeiro e pegar a felicidade pelo braço e sair correndo como dois apaixonados. Quem de longe, ao observar desavisadamente, não entenderá porque tamanha pressa. Mas é porque eles não entendem que a nossa pressa é a calmaria de estar sempre indo ao encontro do outro. Porque seu peito é meu cais, meu aeroporto, minha rodoviária: é o espaço de toda a saudade.