Anoitecera e ela se viu cansada. Só percebera isso por conta do café frio e daí a curiosidade de olhar pela cortina da janela e enxergar a escuridão. O seu ambiente de trabalho não proporcionava muitas distrações, tampouco contemplar o céu. A faxina no Edifício Le Corbusier era intensa pela quantidade de escritórios. Ela ficava responsável por três andares. Quando chegava no terceiro, já era tempo de retomar o primeiro. Assim até acabar o dia. Na hora do almoço, esquentava sua marmita de plástico no microondas e comia sem muita empolgação. O restante do tempo preparava e servia o café aos demais funcionários do prédio. Sentia-se útil assim. Anoitecera e um dia de vida estava prestes a acabar. Saía do Le Corbusier uma única vez durante o serviço: o momento de colocar o lixo na rua. Aqueles que a observavam da calçada, correndo e rindo com sacos de lixo, não conseguiriam compreender aquele gesto. Durante o dia inteiro, interagindo com centenas de pessoas, permanecia em silêncio, dizendo apenas palavras protocolares. Contudo, no momento em que corria com os sacos de lixos, permitia-se gritar e rir. Era impossível conter a felicidade de quem tinha um dia a menos para viver. Amanhã o dia virá novamente - inexorável - mas ela sabe que a noite há de tingir o céu e os sacos de lixo estarão ali para lhe proporcionar um minuto de euforia ou talvez este seja o sabor da liberdade.
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