é sexta-feira da paixão, mas não podemos fazer amor: é pecado, diria a minha vó. Isso porque alguns anos atrás pregaram um homem num tronco e o deixaram lá até a morte. Fizeram isso de novo uns dias atrás no Flamengo. Ao invés do tronco, um poste. Ao invés de prego, uma trava de bicicleta. Ambos ficaram nu, apenas um pano cobria a parte íntima. Acho que não houve tanta repercussão, como o outro caso, por conta da cor dos olhos. Olhos azuis chamam muita atenção no Brasil. Os bombeiros precisaram usar um maçarico para abrir a trava que prendia o pescoço do rapaz. Não havia nenhuma coroa, tampouco lhe ofereceram vinagre. A semelhança que ainda resta daquele tempo com hoje são os gritos e as agressões que ambos receberam de quem, distraído, passava pelo caminho: olhavam e cuspiam. Outra parecença é que aquela trava de bicicleta. Lembra muito o ferro ao pescoço aplicado aos escravos fujões. A escravidão já acabou - dizem! - mas curiosamente os castigos continuam para a mesma cor de pele. O menino do Flamengo sobreviveu, mas não sabemos até quando. Talvez tenha o mesmo destino dos meninos da Candelária, assassinados na frente de uma Igreja, onde aqueles que sobreviveram não tardaram muito para encontrar seu destino: da "morte matada antes dos 30". Já se passaram alguns anos e ainda ninguém ressuscitou. Pelo contrário, continuam morrendo. Vai ver é porque nenhum deles tinham olhos azuis. Olhos azuis chamam atenção demais no Brasil.
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