'compreendeis o que vos fiz?' (joão 13:12)
'por que o senhor atirou em mim?' (d.r, 17)
são paulo, jaçanã: os policiais foram ao local para atender uma denúncia de "distúrbio de paz"; não tiveram sucesso: uma bala encontrou um tórax de um adolescente - dezessete anos - após a morte do menino, a rodovia fernão dias foi interdidata, seis ônibus incendiados, três caminhões queimados e agências bancárias depredadas: 'por que o senhor atirou em mim?' - ainda não compreendemos aquele gesto de lavar os pés: 'por que o senhor atirou em mim?' ainda não temos a resposta para uma pergunta tão simples.
*
somente os suicidas sabem o momento de sua última ceia; mas não foi isso que pensou aquele rapaz, ao parar num bar antes de chegar em casa depois do trabalho; sentou-se à mesa com os amigos que ali já estavam; a seleção jogava com maestria contra a bolívia: 6x0; o dia quente repousava nas suas cabeças e do chão subia aquele vapor abafado típico do subúrbio; mesmo assim não imaginariam que dali explodiria uma granada, que mataria sete pessoas; as demais foram fuziladas... numa tempestade de chumbo em meio a um dia sem nuvens: o sangue escorrendo pela calçada formava o arco-íris tão comum nesses momentos; quando a tempestade dissipou, contaram os corpos: vinte e três; perfilaram-os em duas linhas: ninguém teve seus pés lavados.
'por que o senhor atirou em mim?' (d.r, 17)
são paulo, jaçanã: os policiais foram ao local para atender uma denúncia de "distúrbio de paz"; não tiveram sucesso: uma bala encontrou um tórax de um adolescente - dezessete anos - após a morte do menino, a rodovia fernão dias foi interdidata, seis ônibus incendiados, três caminhões queimados e agências bancárias depredadas: 'por que o senhor atirou em mim?' - ainda não compreendemos aquele gesto de lavar os pés: 'por que o senhor atirou em mim?' ainda não temos a resposta para uma pergunta tão simples.
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somente os suicidas sabem o momento de sua última ceia; mas não foi isso que pensou aquele rapaz, ao parar num bar antes de chegar em casa depois do trabalho; sentou-se à mesa com os amigos que ali já estavam; a seleção jogava com maestria contra a bolívia: 6x0; o dia quente repousava nas suas cabeças e do chão subia aquele vapor abafado típico do subúrbio; mesmo assim não imaginariam que dali explodiria uma granada, que mataria sete pessoas; as demais foram fuziladas... numa tempestade de chumbo em meio a um dia sem nuvens: o sangue escorrendo pela calçada formava o arco-íris tão comum nesses momentos; quando a tempestade dissipou, contaram os corpos: vinte e três; perfilaram-os em duas linhas: ninguém teve seus pés lavados.
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o menino - por conta da pressa - lavou apenas o pé para calçar o sapato; aqueles garotos estavam animados com o primeiro salário do amigo: jovem aprendiz no atacadão da avenida brasil; saíram todos para jantar; entraram os cinco, bem apertados, no pálio do ano de dois mil e um; a caçula de cinco anos quis ir, mas não havia mais lugar; o irmão então prometeu trazer um lanche, mas ele nunca mais voltou: mataram-o antes de fazer a sua última ceia... estavam em costa barros, o motorista dirigia o pálio a 60 km/h; o projétil ao sair do cano do fuzil viajou a 1.200km/h - demorando alguns segundos - até encontrar os corpos; já estavam mortos quando foi possível ouvir o barulho do impacto do aço em suas carnes; foram um pouco mais de oitenta tiros - nenhuma bala se perdeu.
Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. (Mateus 5:13)
Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. (Mateus 5:13)
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