sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Das cotas

O que me deixa mais triste nas pessoas, digo, nos ricos, é que de todas as injustiças que existem no mundo, eles só reclamam quando os únicos favorecidos de tudo são os oprimidos. Ninguém gosta de ser ofendido, ninguém. E acredite amigo, nem os negros, nem os pardos, nem os roxos, nem os cinzas, gostam de ser ofendidos. Mas se ainda há discriminação, algo tem que mudar. Cotas para negros é justo. Se há pagamento de pensões para os exiladados e torturados da Ditadura Militar, o sistema de cotas é o mínimo que o governo poderia fazer para reparar os quase quatro séculos de escravidão no país. Os índios, sem comentários, foram praticamente massacrados pela Metrópole. Os pobres, coitados, sofrem, sofrem, sofrem. O Estado não é capaz de oferecer um ensino fundamental de qualidade. Crescem sendo semi-analfabetos. Viram pedreiros, faxineiros, porteiros, quando alguns têm sorte, viram traficantes. Há uma estagnação social absurda. Agora quando o governo faz o seu papel: que é oferecer educação para todos, colocando cotas nas vagas para as universidades federais, há uma discriminação, há uma injustiça! Injustiça é ter criança na rua, injustiça é um ser humano morrer de fome, injustiça é uma cidadão ser discriminado por sua renda, por sua cor. Injustiça é você crescer sabendo que jamais será uma pessoa bem-sucedida.

Ora, uma universidade abre as portas das oportunidades para todos. Você quando vê uma criança do ensino publico, nunca irá imaginar ela como uma médica, ou juiz, ou um engenheiro. Sua visão preconceituosa e distorcida não permite isso. Agora, mesmo você torcendo contra, ela tem pelo menos a oportunidade. Não é que ela vá ser um excelente médico, mas pelo menos ela tem a oportunidade, um instrumento para isso. Não é que esse sistema seja o final de tudo, pelo contrário, é o começo. Apenas o pontapé inicial. Resta o Estado agora reformar o ensino fundamental. Cujo a competência é de esfera municipal. Sendo assim, com uma reforma na educação fundamental principalmente, será desnecessária as cotas. E meu amigo, quando esse dia chegar, o Brasil, de fato, vai pra frente.

Minha classe média, paciência. Eu sei que você, entre todos, é a que vai sair mais prejudicada. Mas por favor, tente entender que vai valher a pena. Com a educação acaba a violência. Esse é o unico remédio para tal. Por enquanto você vai dando seus passeios na Disney...

3 comentários:

Anônimo disse...

Interessante o que você escreveu. É um ponto de vista diferente, amplo e de certa forma nem um pouco "egoísta", já que isso nos afetaria bastante, ou a nossa "classe". Mas não concordo no projeto como um todo, até porque fui pesquisar sobre isso e tem mais outras coisas que querem implementar, como o fim do vestibular para os alunos que se declararem cotistas. Se hoje em dia as escolas públicas do Rio, por exemplo, estão tão pouco preocupadas em ensinar e que o desempenho do alunos seja realmente avaliado e considerado com a aprovação automática, como poderia haver uma seleção de alunos por notas na escola? No mínimo estranho e confuso. Acho que existem outras coisas a serem mudadas na educação, com mais urgência.
Ah, achei uma reportagem do Cristovam Buarque falando sobre isso, devem ter outras melhores, mas essa foi a mais "completa" que achei até agora sobre o Cristovam.

http://odia.terra.com.br/educacao/htm/polemica_na_ampliacao_das_cotas_214274.asp

Beatrix Kiddo! disse...

Apesar de achar que o governo deveria ter uma obrigação para com os negros, que foram neglegenciados por tantos anos, tem que ter um limite para tal coisa. Simplesmente deixar que eles entrem numa faculdade pública sem lutar, só faz com que o ensino caia de qualidade. Acredito que a melhor forma de trazê-los às universidades é através da educação de base. Começando pelo ensino fundamental, depois pelo ensino médio. Aí, sim eles estariam lutando por algo, conquistando e aprendendo a dar valor de se entrar numa faculdade. Também aumentaria o nível da qualidade de ensino e o Brasil não seria esse país ridículo que só fica à frente de pouquíssimos países da África em resultados de provas feitas pelo mundo todo.

Thiago José disse...

Sem duvidas reformar o ensino de base é prioridade, mas os que já passaram por esse ensino ineficaz, o que fazemos com ele?

Ignoramos?