terça-feira, 15 de abril de 2008

Privacidade entre o homem e o peixe.

Cresço,
Desço,
Esqueço.

Vou pro mundo, vou pro mar mas não vou fundo.
As ondas são mais fortes do que eu.
Os peixes têm mais sorte do que eu.

Teriam azar eles, se nascessem homens.
Tudo bem que não teria mais anzol, e eles veriam muito mais o sol.
Mas com o passar dos anos, eles teriam muito mais desgosto de terem nascido humanos.

Esse ser que prejudica a si mesmo. Nada merece. Nem mesmo um beijo.
A gentileza, a gratidão foram esquecidas. A delicadeza foi consumida.
Eu ajudo mas não me iludo. Há muito ainda por fazer. Há muito ainda que mudar.
Mudar as ruas, o país e a cidade
Mudar os rumos, as idéias e as vontades.
Transformar o que não pode ser mudado. Fazer gritar aquele mudo que anda calado.
Fazer delirar os surdos por música. E fazer olhar os cegos por arte.

Há de se protestar. Há de se fazer alarde. Ainda não é tarde.

Talvez ninguém consiga. Talvez ninguém tente. Talvez ninguém se importe.
Paciência, meu amigo. Tomarei meu porre e preparei a minha morte.

Morro cedo mas vou-me tarde.
E depois que os peixes decobrirem que o sol arde, vão prefirir ficar no mar.
E que se foda a minha vontade. As ondas não vão parar.
Maldito tu, que és homem. Maldito tu, que és inteiro.
Sorte porém tem os peixes, que não vão ao meu enterro.